sexta-feira, 17 de junho de 2011

A tal da entrevista

   Como um dos meus afazeres na universidade, mais precisamente na aula de Introdução ao Jornalismo, era entrevistar um jornalista, fui atrás de um. O meu entrevistado é o jornalista Pedro Chaves, chefe e editor do setor de atendimento ao leitor da Zero Hora. Acabei marcando a entrevista para quarta feira, dia 15 de junho, às 18h.
   Cheguei à redação da Zero Hora, exatamente, às 18:01h. Quando entrei na portaria, o responsável por cuidar de quem entra e quem sai, olhou para mim com certo desprezo, meio que me encarando, perguntou: “O que é?”. Também pudera, se eu estivesse no lugar dele olharia do mesmo jeito. Levando em conta que 18h já praticamente noite, e cheguei lá com um boné virado para trás, mochila nas costas, brinco na orelha e barba mal feita, ele certamente deve ter pensado que era um “marginal” ou coisa do tipo. Mas olhei para ele e respondi: “Tenho hora marcada com o Pedro Chaves”. Em seguida, o senhor responsável pelo entra e sai do prédio da Zero Hora, autorizou a minha entrada. Entrei no elevador e subi até o quarto andar, ao descer lá, uma menina me levou ao encontro do senhor Chaves, chegando perto dele, se apresentou e pediu para sentar, e apontou – me uma cadeira. Logo que sentei, falou – me que estava terminando algo, depois de terminar, ele olhou para mim e disse: “Se importa de esperar cinco minutos?”, respondi que não e ele saiu, na verdade, quase todos ali presentes saíram também. Acabei descobrindo depois, dia 15 de junho é aniversario de Paulo Sant’Ana, e todos foram numa espécie de comemoração para ele, dentro da própria redação. Deixe – me explicar, não sei muito bem, mas a redação onde ocorreu a tal comemoração era uma e eu estava em outra, acredito, um pouco menor. Pedro ficou muito mais do que cinco minutos lá onde estava ocorrendo à “festinha” de Paulo Sant’Ana, não sei ao certo, mas passou dos vinte minutos. Mas ele voltou, e comecei a entrevista.

   Fui logo lhe perguntando: Como foi sua trajetória até chegar aqui? Onde se formou, trabalhou?
Pedro Chaves: “Comecei estudando jornalismo na PUC. O curso de jornalismo demorava quatro anos para ser concluído. Fui convidado a trabalhar na Zero Hora da 7 de setembro. Quando estava começando o segundo ano de faculdade fui convidado para trabalhar no Correio do Povo, mas ficava muito longe da PUC. Então o meu chefe na época me perguntou: ‘Não se importa de trocar a PUC pela UFRGS?’, respondi que não e eles conseguiram me transferir para UFRGS. Porém, na universidade da UFRGS o curso de jornalismo era de três anos, teoricamente iria terminar mais rápido. Mas ao término do terceiro ano não pude concluir, o reitor da universidade disse que eu teria que fazer mais uma cadeira que se chamava História do pensamento artístico brasileiro. Mas nessa época a UFRGS também decidiu passar o curso de jornalismo de três para quatro anos e queriam que eu fizesse quinze cadeiras. Como eu já trabalhava como jornalista, já tinha praticamente concluído o curso, achei um absurdo isso e decidi largar de mão e processar a universidade. Então o reitor me chamou e disse: ‘Olha se tu vai processar a universidade, você certamente vai ganhar, mas daí vamos recorrer e isso nunca vai acabar’, acabei então fazendo mais quatro cadeiras, duas em cada semestre e consegui o meu diploma. Depois de formado, em 1970 fui convidado a voltar para Zero Hora, queria ser repórter, mas fui convidado a ser editor da revista ZH e também do segundo caderno. Depois fui chefe de redação, mas 1975 voltei para o Correio do Povo. Quando Guilherme Villela foi eleito prefeito de Porto Alegre, fui convidado para ser chefe de imprensa da prefeitura. Em 1984 fui convidado, novamente, para trabalhar no Correio do Povo, na Folha da Tarde. Mas nessa época o jornal estava caindo, descendo, uma situação deplorável, fiquei só três meses lá. Para alguém que já trabalhou no auge do jornal, era difícil ficar lá naquela situação. No final do mesmo ano fui para Zero Hora novamente, onde fui editor de política local por sete anos. Em 1991 fui editor geral. Em 1993 Guilherme Villela era secretário de transportes de Porto Alegre, então fui convidado para trabalhar na prefeitura novamente, fiquei até 2002. Quando sai de lá fui chamado para ir para a Zero Hora, mas não queria ser mais editor, então fiz um freelancer com o atendimento ao leitor. E agora, desde 2003, sou chefe e editor desse setor.”

Eu: O que levou você a ser jornalista?
Pedro Chaves: “Na verdade, eu queria ser médico. Apesar de que todos os testes vocacionais que fiz, nenhum deu medicina, a maioria dava: direito, arquitetura. Mas decidi fazer o vestibular para medicina. Não passei. Logo que sai do colégio, eu e um amigo fazíamos uma revista, toda padronizada, com títulos colorido, o que na época era bem diferente. Apesar da revista não ter dado muito certo, quando fui fazer o vestibular novamente, fiz para medicina e jornalismo, enquanto o meu amigo, fez para medicina, odontologia e jornalismo. Ele passou em odontologia e jornalismo, mas decidiu ser dentista, ou seja, queria ganhar dinheiro. Já eu, como só fiz duas escolhas, não passei de novo em medicina, fui ser jornalista.”

Eu: O que exatamente você faz?
Pedro Chaves: “Atendemos ao leitor, lemos e respondemos todos os e-mails, telefonemas e até cartas. Outro dia recebi uma carta datilografada. O leitor pode nos mandar sugestões e também críticas. Nós selecionamos as cartas e e-mails e passamos para as outras editorias. Também temos um programa de cadastramento ao leitor. Nesse cadastramento tem nomes e informações sobre cada pessoa que está cadastrada. Os e-mails de leitores não cadastrados vão para o ‘Leitor 2’, os leitores cadastrado, que já são 28 mil, vão para o ‘Leitor 3’, e o que vai sair na edição vai para o ‘Leitor 4’.”

Eu: Qual a dica que você dá para futuros jornalistas?
Pedro Chaves: “Bom, atualmente estamos com essa situação de jornalistas sem diplomas, eu sou contra isso, para mim, jornalista tem que ter diploma. Acho que a pessoa que quer ser jornalista tem que sentir vocação e entender que, assim como qualquer outra profissão, existem os famosos e não famosos. Você não pode querer entrar no jornalismo pensando que logo vai ser famoso, talvez isso nunca aconteça, mas não quer dizer que seja um mau jornalista. Tem muitos bons jornalistas por ai que não são famosos, mas mesmo assim são muito importantes. São as formigas operárias do jornalismo. A minha filha mais velha é jornalista, eu não a aconselhei a entrar nessa profissão, mas mesmo assim ela quis. Era o que ela queria, mas não deu muito certo, agora ela e uma amiga dela abriram um pequeno bistrô e está indo bem. Se soubéssemos que isso iria acontecer, teria a mandado fazer um curso de culinária ao invés de jornalismo. Agora a minha filha de 17 vai fazer vestibular no final do ano para publicidade, fazer o que, é o que ela quer, tem que fazer aquilo que gosta.”

Eu: Quando começaste a estudar jornalismo, qual era o seu objetivo?
Pedro Chaves: “Nunca planejei nada. Sempre deixei a vida me levar, nunca planejei ser chefe e editor do atendimento ao leitor.”

   Depois dessa pergunta encerrei minha entrevista com o senhor Pedro Chaves, ao levantar – me para ir embora ele me perguntou: “Qual universidade mesmo que tu estudas?”, eu respondi Unisinos e acrescentei: “Sou aluno do Eduardo Veras”, então ele falou “Ah, o Eduardo Veras, grande amigo!”.


  Fui embora, quando passei pela portaria novamente, o senhor que tinha me olhado com cara estranha já não estava mais lá. Acabei pegando o ônibus com o intuito de descer no centro da cidade, mas acabei me descuidando e fui parar na Vila Nova, tive que pegar outro ônibus para voltar até o centro, e assim, poder voltar para minha casa.


Postado por: Matheus Freitas




Um comentário:

  1. Matheus, pessoal, está ótimo o blog. Sério mesmo. Parabéns!. Quero ler mais. Abração. Eduardo.

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